Jovens foram as principais vítimas dos 44 homicídios registrados no primeiro semestre do ano em Santa Maria

Marcos Fonseca e Rafael Menezes

Jovens foram as principais vítimas dos 44 homicídios registrados no primeiro semestre do ano em Santa Maria

Foto: Beto Albert (Diário)

Registro de homicídio de jovem de 19 anos na tarde do último domingo (30), no Bairro Nova Santa Marta

O primeiro semestre de 2024 terminou sendo considerado o mais violento dos últimos cinco anos em Santa Maria. Nos seis primeiros meses, foram registradas 44 mortes violentas. Em comparação com o mesmo período do ano passado, a cidade registrou 14 mortes a mais, ou seja, houve um aumento de 47% nos homicídios.


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Em 2020, foram registrados 26 homicídios no primeiro semestre. Em 2021, esse número caiu para 20 – menos da metade do total de 2024. Em 2022, houve um aumento significativo, com 40 homicídios no mesmo período. Naquele ano, o município atingiu recorde de assassinatos, com 70 mortes ao total.

 
A análise dos números do semestre revela dados preocupantes. Entre eles, que mais da metade das vítimas eram adolescentes e jovens até 29 anos. Foram 23 casos. De acordo com o delegado de Homicídios, Marcelo Arigony, pessoas dessa faixa etária estão no centro da disputa das facções pelo tráfico de drogas na cidade.


– Quem mata e quem morre são jovens e adolescentes. Em muitos casos, as vítimas já tinham ocorrências na polícia por homicídio – diz.


O delegado acrescenta que grande parte da violência oriunda do submundo das drogas se dá nos bairros da periferia, onde muitas famílias vivem em vulnerabilidade social, falta infraestrutura urbana e até escolas. Sem alternativa de vida, os jovens acabam migrando ao tráfico cada vez mais cedo, muitas vezes com 15 ou 16 anos.

 
Uma das ações fundamentais para frear a criminalidade é investir em presídios eficientes, que ofereçam dignidade aos detentos, mas que os mantenham encarcerados e longe do contato com as facções.

 
– Os presídios precisam conter os jovens para não seguirem cometendo crimes dentro da cadeia – ressalta, referindo à presença de celulares dentro das celas que permitem que os presos ordenem as execuções.

 
Além disso, é praxe da polícia prender mais de uma vez criminosos que, por brechas nas leis, são soltos em pouco tempo e continuam a cometer homicídios.

 
Outro dado revelador das estatísticas é que cerca de 90% dos casos de homicídio estão relacionados ao tráfico de drogas. Das 44 mortes do semestre, menos de 10 estiveram relacionadas a casos que não envolviam diretamente a guerra dos entorpecentes. Dois suspeitos foram mortos em intervenções policiais, e uma morte é investigada como legítima defesa em caso de violência doméstica.


Revista

Na última segunda-feira (1º), o Grupo de Intervenção Regional (Gir-2) da Polícia Penal realizou uma revista geral em celas de duas galerias da Penitenciária Estadual de Santa Maria (Pesm). Foram recolhidos celulares, carregadores e drogas. 


Além disso, houve a transferência de lideranças do tráfico para outras penitenciárias do Estado, buscando enfraquecer os grupos e deixá-los incomunicáveis, já que grande parte das ordens de execução parte de dentro do sistema prisional.


Radiografia dos crimes em santa maria em 2024


Assassinatos no primeiro semestre  

Número de homicídios em Santa Maria no primeiro semestre de cada ano desde 2020:

  • 2020: 25
  • 2021: 20
  • 2022: 38
  • 2023: 30
  • 2024: 44

Em comparação com o primeiro semestre de 2023, houve crescimento nas mortes de 47%.


As vítimas por sexo:

  • Homens: 40
  • Mulheres: 4

Das 44 mortes, 23 vítimas tinham até 29 anos, o que corresponde a 52% do total.


Armas usadas nos crimes

  • Armas de fogo: 35
  • Arma branca (faca): 9


Casos especiais:

Das 44 mortes no primeiro semestre: 

  • 3 ocorreram em confrontos entre suspeitos e a polícia
  • 1 é investigada como legítima defesa em caso de violência doméstica


No contra-ataque, polícia avança nas investigações e nas prisões

Apesar do aumento na violência no primeiro semestre de 2024, a resposta das autoridades tem sido significativa no que se refere à elucidação dos crimes e à prisão dos envolvidos. Atualmente, há nove grupos ligados ao tráfico de drogas identificados na cidade.

 
O delegado regional da Polícia Civil, Sandro Meinerz, acrescenta que Santa Maria tem uma particularidade no tráfico de drogas, por ser uma cidade com alto consumo de maconha, crack e cocaína. Em outros municípios gaúchos, geralmente há uma ou duas grandes facções que praticam os homicídios contra seus rivais.


em Santa Maria, não há facções, mas pequenos grupos regionais, o que pulveriza os crimes e torna as investigações ainda mais complexas e abrangentes.

 
Mesmo assim, os resultados são positivos em termos de elucidação dos crimes. O delegado de Homicídios de Santa Maria, Marcelo Arigony, afirma que, desde o início do ano, foram realizadas sete operações policiais, cumpridos 139 mandados de busca e apreensão, apreendidas 12 armas e presos cinco suspeitos de crimes em flagrante. 


Além disso, 40 pessoas foram presas preventivamente e nove adolescentes foram internados, totalizando 54 capturas – uma média de uma prisão a cada três dias.


Em 2023, todos os 55 homicídios registrados na cidade tiveram os autores identificados e presos, alcançando 100% de elucidação do casos. O sucesso das investigações é resultado da união das forças de segurança, ressalta o delegado de Homicídios.


– É uma grande parceria entre as forças de segurança, Poder Judiciário, Ministério Público e Instituto Geral de Perícias – aponta Arigony.


Entre as ações desenvolvidas pela Polícia Civil no combate aos grupos criminosos, estão pedidos de transferência de presos para outras penitenciárias do Estado e as operações, muitas delas feitas em conjunto com outros órgãos de segurança.


Brigada Militar

A Brigada Militar (BM) também tem intensificado as ações policiais em Santa Maria. Entre elas, estão as operações Cerco Fechado e operação Narke 2, para repressão qualificada à criminalidade.


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